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07 agosto, 2019

Embargo ou não? Especialistas se dividem sobre efeitos das novas sanções dos EUA contra a Venezuela


Medida congela bens venezuelanos e proíbe negociações com o governo Maduro

Michael Crowley e Anatoly Kurmanaev, do New York Times*

Nota en portugués
NOVA YORK - A ordem executiva assinada na segunda-feira à noite pelo presidente Donald Trump impondo novas e mais rigorosas sanções contra a Venezuela eleva sua campanha para remover Nicolás Maduro do poder. A medida, que congela  todos os bens do governo venezuelano nos EUA e de indivíduos que ajudem funcionários venezuelanos atingidos pelas sanções, foi anunciada horas antes da abertura de uma conferência internacional sobre o país em Lima. Vários membros do governo americano — incluindo John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, e Wilbur Ross, secretário de Comércio — participam do encontro que discute "a restauração da democracia", segundo o governo peruano.
A Casa Branca tem apoiado o líder opositor Juan Guaidó, que considera Maduro um líder ilegítimo. Em abril, o governo Trump apoiou sua convocação para que os generais se rebelassem contra o presidente venezuelano, mas Maduro manteve o apoio das Forças Armadas e reprimiu a ameaça imediata ao seu poder.

Os efeitos das novas sanções não estão claros ainda. Vários especialistas questionaram notícias na mídia que classificaram a ação como "umembargo total ". Dado que o governo americano tem repetidamente decretado medidas restritivas desde que Maduro chegou ao poder, em 2013, alguns preveem um efeito modesto.
— Parece fazer mais barulho do que ter efeito prático — disse Richard Nephew, um ex-funcionário do Departamento de Estado que escreveu um livro sobre sanções econômicas e é professor na Universidade Columbia. — Isso não é um embargo. Ele não cria penalidades para os negócios com a Venezuela, apenas nega essas atividades com o governo da Venezuela, e é duvidoso que ainda existam algumas que possam ser atingidas por essa ação. 
Outros preveem consequências mais severas. Embora as sanções proíbam fazer negócios apenas com o Estado venezuelano, elas podem prejudicar as empresas privadas sobreviventes do país, que já lutam para encontrar fornecedores e fazer pagamentos no exterior, disse Francisco Rodríguez, economista-chefe da corretora Torino Capital em Nova York e ex-assessor econômico de um candidato presidencial da oposição venezuelana.
— As instituições financeiras evitarão negociar com as empresas venezuelanas do setor privado, que poderiam ser vistas como testas de ferro do governo venezuelano — observou.
Fernando Cutz, que supervisionou a política para a América do Sul da Casa Branca sob o comando do ex-conselheiro de Segurança Nacional H. McMaster, disse que a nova ordem, no mínimo, "põe a Venezuela em uma lista de regimes realmente horrendos".
Rússia e China
O teste, disse Cutz na noite de segunda-feira, é se as novas sanções vão impedir que a Rússia e a China recebam petróleo venezuelano como parte de um programa de pagamento da dívida. Se assim for, ele disse, "isso é uma coisa muito significativa, e então a questão é como a Rússia e a China responderão, mais do que qualquer outra coisa".
Cutz disse que a Rússia estava perto de ser paga integralmente pelos empréstimos que fez à Venezuela, mas que a China deve receber petróleo do país sul-americano até o início de 2021.
— Eles podem perder mais — disse Cutz, que é membro do Wilson Center, um think tank em Washington.
As importações per capita da Venezuela já caíram para o nível mais baixo desde a década de 1950. As importações do país totalizaram apenas US$ 303 milhões em abril, uma queda de 92% em relação ao mesmo mês de 2012, segundo a Torino Capital.
A economia da Venezuela deve cair 35% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional. O Produto Interno Bruto do país terá encolhido em dois terços desde 2013, tornando-se o maior colapso econômico em um país sem guerra desde pelo menos a década de 1970.
As sanções também poderiam prejudicar as negociações políticas entre Maduro e a oposição, agora sediadas em Barbados e na Noruega, que muitos analistas políticos veem como uma última chance para uma transição política pacífica.
Os negociadores de Maduro ofereceram à oposição uma perspectiva de novas eleições presidenciais em troca do levantamento das sanções americanas — uma possibilidade que fica mais distante com a ação do governo Trump.
A ordem inclui uma exceção para bens humanitários, como alimentos, roupas e remédios.
Trump abraçou com alegria o governo da Venezuela como um ponto de discussão política, citando repetidamente sua economia devastada como um fábula preventiva do que ele diz que os democratas fariam se conquistassem o poder nos Estados Unidos. Críticos democratas dizem que Trump desenvolveu um interesse incomum no país principalmente por esse motivo, e para impressionar os imigrantes cubanos e venezuelanos no estado eleitoralmente crucial da Flórida.
*Tomado de O Globo / Brasil