Medida
congela bens venezuelanos e proíbe negociações com o governo Maduro
Michael Crowley e Anatoly Kurmanaev,
do New York Times*
Nota en portugués
NOVA YORK - A
ordem executiva assinada na segunda-feira à noite pelo presidente Donald Trump
impondo novas e mais rigorosas sanções
contra a Venezuela eleva sua campanha para remover
Nicolás Maduro do poder. A medida, que congela todos os bens do governo
venezuelano nos EUA e de indivíduos que ajudem funcionários venezuelanos
atingidos pelas sanções, foi anunciada horas antes da abertura de uma conferência
internacional sobre o país em Lima. Vários membros do governo americano —
incluindo John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, e Wilbur Ross,
secretário de Comércio — participam do encontro que discute "a restauração
da democracia", segundo o governo peruano.
A Casa Branca
tem apoiado o líder opositor Juan Guaidó, que considera Maduro um líder
ilegítimo. Em abril, o governo Trump apoiou sua convocação para que os generais
se rebelassem contra o presidente venezuelano, mas Maduro manteve o apoio das Forças
Armadas e reprimiu a ameaça imediata ao seu poder.
Os efeitos
das novas sanções não estão claros ainda. Vários especialistas questionaram
notícias na mídia que classificaram a ação como "umembargo total ".
Dado que o governo americano tem repetidamente decretado medidas restritivas
desde que Maduro chegou ao poder, em 2013, alguns preveem um efeito modesto.
— Parece
fazer mais barulho do que ter efeito prático — disse Richard Nephew, um
ex-funcionário do Departamento de Estado que escreveu um livro sobre sanções
econômicas e é professor na Universidade Columbia. — Isso não é um embargo. Ele
não cria penalidades para os negócios com a Venezuela, apenas nega essas
atividades com o governo da Venezuela, e é duvidoso que ainda existam algumas
que possam ser atingidas por essa ação.
Outros
preveem consequências mais severas. Embora as sanções proíbam fazer negócios
apenas com o Estado venezuelano, elas podem prejudicar as empresas privadas
sobreviventes do país, que já lutam para encontrar fornecedores e fazer
pagamentos no exterior, disse Francisco Rodríguez, economista-chefe da
corretora Torino Capital em Nova York e ex-assessor econômico de um candidato
presidencial da oposição venezuelana.
— As
instituições financeiras evitarão negociar com as empresas venezuelanas do
setor privado, que poderiam ser vistas como testas de ferro do governo
venezuelano — observou.
Fernando
Cutz, que supervisionou a política para a América do Sul da Casa Branca sob o
comando do ex-conselheiro de Segurança Nacional H. McMaster, disse que a nova
ordem, no mínimo, "põe a Venezuela em uma lista de regimes realmente
horrendos".
Rússia e
China
O teste,
disse Cutz na noite de segunda-feira, é se as novas sanções vão impedir que a
Rússia e a China recebam petróleo venezuelano como parte de um programa de
pagamento da dívida. Se assim for, ele disse, "isso é uma coisa muito
significativa, e então a questão é como a Rússia e a China responderão, mais do
que qualquer outra coisa".
Cutz disse
que a Rússia estava perto de ser paga integralmente pelos empréstimos que fez à
Venezuela, mas que a China deve receber petróleo do país sul-americano até o
início de 2021.
— Eles podem perder mais — disse Cutz, que é membro do Wilson
Center, um think tank em Washington.
As
importações per capita da Venezuela já caíram para o nível mais baixo desde a
década de 1950. As importações do país totalizaram apenas US$ 303 milhões em
abril, uma queda de 92% em relação ao mesmo mês de 2012, segundo a Torino
Capital.
A economia da
Venezuela deve cair 35% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional. O
Produto Interno Bruto do país terá encolhido em dois terços desde 2013,
tornando-se o maior colapso econômico em um país sem guerra desde pelo menos a
década de 1970.
As sanções
também poderiam prejudicar as negociações políticas entre Maduro e a oposição,
agora sediadas em Barbados e na Noruega, que muitos analistas políticos veem
como uma última chance para uma transição política pacífica.
Os
negociadores de Maduro ofereceram à oposição uma perspectiva de novas eleições
presidenciais em troca do levantamento das sanções americanas — uma
possibilidade que fica mais distante com a ação do governo Trump.
A ordem
inclui uma exceção para bens humanitários, como alimentos, roupas e remédios.
Trump abraçou
com alegria o governo da Venezuela como um ponto de discussão política, citando
repetidamente sua economia devastada como um fábula preventiva do que ele diz
que os democratas fariam se conquistassem o poder nos Estados Unidos. Críticos
democratas dizem que Trump desenvolveu um interesse incomum no país
principalmente por esse motivo, e para impressionar os imigrantes cubanos e
venezuelanos no estado eleitoralmente crucial da Flórida.
*Tomado de O
Globo / Brasil