Relatório do Observatório de Mortes e Violências contra
LGBTQIA+ mostra que no ano passado 316 mortes foram registradas no país, ante
237 em 2020
Larissa
Bohrer Da RBA / Texto en portugués
O Brasil, pelo quarto ano consecutivo, é o país que mais mata
pessoas LGBTQIA+. É o que mostra o novo relatório produzido pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, lançado
na noite de quarta-feira (11). O documento contou com a parceria de várias
organizações sociais no processo de elaboração dos dados apresentados. Entre
elas, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a Acontece Arte
e Política LGBTI+ e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).
Entre os dados apresentados, o relatório chama atenção para
aumento considerável de casos de violência ou assassinato no ano passado na
comparação com 2020, quando 237 mortes foram registradas. Em 2021, 316 pessoas
LGBTQIA+ foram vítimas da LGBTfobia. Para
Alexandre Bogas, diretor executivo da Acontece Arte e Política LGBTI+ e um dos
três coordenadores do Observatório, essa diferença, em relação ao número de
mortes entre os anos de 2020 e 2021, tem relação com o período mais crítico da
pandemia.
Exposição e o governo
“Um outro ponto que vale ressaltar é que 2020 foi o ano
principal da pandemia. Então naquele momento realmente as pessoas deixaram de
sair, de trabalhar e de se envolver. A cultura não estava acontecendo, nem
casas de show, entre outras questões. Essa é uma análise específica porque se a
gente olhar no histórico dos últimos anos, em 2020, (casos de violência)
baixaram bem referente aos outros (anos). Em 2021, aos poucos a gente começou a
ter o processo de voltar um pouco mais ao normal. E novamente nos tornamos
expostos a essas violências cotidianas no dia a dia. Isso já traz para a gente
uma questão”, observa Bogas.
Mas o diretor executivo pondera, contudo, que o aumento da
violência é também reflexo do atual governo, “conservador e preconceituoso”. E que, em
sua avaliação, estimula as pessoas a serem violentas e partir para a agressão.
“Fora que, outro ponto falando sobre essa quantidade de
mortes, quando entra 2020, com esse novo governo atual, que é muito difícil
para nós, a população LGBTQIA+ ficou com muito medo e procurou se resguardar
porque não sabia o que vinha no processo. Isso também a gente via como um
reflexo da diminuição naquele momento. Em 2021, já começa a aflorar cada vez
mais o conservadorismo, o preconceito, que sempre esteve no mundo. Mas a gente
vê que isso cresceu muito mais e se reflete nas mortes que voltaram,
infelizmente, a sua média”, acrescenta.
São Paulo: epicentro
O relatório também mostra que São Paulo é o estado que mais mata pessoas LGBTQIA+. Foram 42 mortes violentas no
ano passado, ante 29 em 2020, e 21 em 2019. Em relação às capitais, São Paulo
também é a recordista. Em 2021, foram 13 mortes violentas no município.
Seguida de Salvador, com 11 mortes, e empate nas capitais de Manaus e Rio de
Janeiro, ambas com 8 mortes violentas.
Alexandre Bogas acredita que a educação é o pilar fundamental
para acabar o preconceito. “Nós só vamos conseguir mudar toda essa situação
quando a gente realmente puder falar abertamente e com tranquilidade para se
ouvir e ser ouvido para construir essa diversidade sexual e de gênero que
existe nesse mundo. Então se a gente não conseguir fazer isso, que é por meio
da educação, não vai se mudar. Eu vejo que o processo principal de mudança
radical é a educação na escola, na saúde, na empresa, em casa, na praça, aonde
você puder falar”, garante.
Acolhimento
Os dados também mostram que o preconceito acontece em várias
esferas da sociedade e na maioria das vezes começa em casa onde a própria
família se volta contra a pessoa LGBTQIA+ . A rejeição também acontece na
escola, com o bullying que é frequente, no mercado de trabalho e também nos
hospitais e postos de saúde. As entidades destacam dificuldades inclusive para
o registro de Boletim de Ocorrência (B.O) contra agressão sofrida. De acordo
com elas, casos de preconceito e violência física e verbal da polícia contra
pessoas LGBTQIA+ também não são raros.
As poucas casas de acolhimento são um respiro para essas
pessoas. Em São Bernardo do Campo, na região do ABC, existe a Casa Neon Cunha,
que atende mais de 150 pessoas mensalmente. Fundador e presidente da
instituição, Paulo Araújo explica que as pessoas que procuram a
residência de acolhimento estão vulneráveis e precisam de uma série de
cuidados, incluindo o psicológico.
Além do atendimento presencial, a Casa Neon Cunha oferece
atendimento psicológico de forma virtual que pode ser solicitado pelo site ou
pelas redes sociais da Casa.
Fuente: Sul 21 / Brasil.