POR FLORESTAN
FERNANDES JR.*/ Para o Jornalistas
pela Democracia
Texto en portugués
Só em 2008, o governo dos
Estados Unidos decidiu tirar o nome de Nelson Mandela da lista dos terroristas
perigosos. Durante quase trinta anos, o líder africano, ganhador do prêmio
Nobel da Paz, fez parte dessa tenebrosa lista. Ele e seu partido, o African
National Congress, foram declarados agentes do terrorismo internacional pelo
governo do ex-presidente Ronald Reagan.
Nas voltas
que o mundo dá, retrocedemos mais de 10 anos, colocando em pauta nos dois
maiores países das Américas a prática do preconceito étnico, da xenofobia, da
homofobia, do machismo. do feminicídio e da misoginia. Por lutar contra o
apartheid, Mandela foi condenado à prisão perpétua por traição, num julgamento
infame. Segundo The New York Times, a CIA teve papel decisivo para a prisão de
Mandela, em 1962. Ele só seria solto em 1990, depois de passar 27 anos na
cadeia.
Ao sair do
cárcere, Manela foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul. E é
até hoje a mais importante referência política de seu país.
Difícil
deixar de ver as semelhanças entre Mandela e Lula. O retirante nordestino,
maior líder sindical do Brasil, foi perseguindo e preso pelo regime militar.
Criou um partido de esquerda, sendo eleito e reeleito presidente do país. Saiu
do poder com 84% de aprovação popular. Hoje está preso, condenado que foi a
véspera de uma eleição presidencial a mais de 12 anos de prisão por um crime
sem prova material.
Bastou
apenas a convicção de um juiz que participou de seminário patrocinado pela
justiça norte-americana e, que, segundo o Wikeleaks, teria participado de
treinamento feito pela CIA. Se isso realmente aconteceu, só o tempo irá dizer.
Apenas quando documentos secretos da agência de inteligência vierem a público.
Como aconteceu recentemente com a liberação de documentos da CIA dando conta
que o presidente-general Ernesto Geisel (1974 e 1979) sabia e autorizou a
execução de opositores ao regime militar.
Neste 5 de
dezembro, quando completamos cinco anos sem Nelson Mandela, vale a pena
relembrar uma de suas mais belas frases: "Ninguém nasce odiando outra
pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para
odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser
ensinadas a amar”.
*Florestan
Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela
Democracia