En portugués / Tomado de ADITAL
"Não é
possível caminhar sozinhos. Às vezes é necessário arriscar juntos": disse
o Papa Francisco para os jovens lituanos no Encontro de Vilnius, no sábado.
Palavras úteis para ler o Acordo entre a
China e o Vaticano.
O comentário
é de Luis Badilla, jornalista, publicado por Il Sismografo,
22-09-2018.
Agora é
oficial e, embora a notícia já fosse bastante conhecida e divulgada, afetou
muito a dinâmica e a programação das principais mídias do mundo. Algumas horas
atrás, foi assinado um Acordo definido
como "provisório" entre a Santa Sé e o
governo chinês. É um Acordo estranho que não agrada totalmente às partes
(signatários), mas que ainda assim o consideram absolutamente necessário e não
mais adiável após vários anos de negociações. A dimensão histórica do acordo
abre o horizonte a muitas esperanças que, se ao longo do "caminhar
juntos" se tornarão novos consensos compartilhados, mudarão a face atual
das relações entre a Santa Sé e a nação chinesa.
Gian Maria
Vian, diretor de L'Osservatore Romano escreve:
"Certamente é destinada a entrar para a história a data de 22 de setembro:
pela assinatura, em Pequim, de um acordo provisório sobre a nomeação de
bispos entre a China e a Santa Sé preparado por
décadas de longas e pacientes negociações, enquanto o Papa inicia sua visita
aos países bálticos". O padre Antonio Spadaro, diretor
de La Civiltà Cattolica observou: "Pode ser considerado
o incipit de uma composição totalmente nova a ser
desenvolvida. Não se trata, portanto, da conclusão de um processo, mas de seu
verdadeiro começo a ser implementado por meio de instrumentos de verificação e
aperfeiçoamento do texto."
O Secretário
de Estado, Cardeal Pietro Parolin, aponta:
"Pela primeira vez depois de muitas décadas, hoje todos os bispos
na China estão em comunhão com o Bispo de Roma. O Papa
Francisco, como seus imediatos antecessores, olha e se dirige com uma
atenção toda especial e muito cuidado ao povo chinês. Há
necessidade de unidade, há necessidade de confiança e um novo ímpeto; há necessidade
de ter bons Pastores, que sejam reconhecidos pelo Sucessor de Pedro e pelas
legítimas autoridades civis de seu país. E o Acordo coloca-se precisamente
nesse horizonte: é um instrumento que esperamos possa ajudar nesse processo,
com a colaboração de todos". O Card. Parolin conclui:
"Para a comunidade católica na China – para os bispos, sacerdotes,
religiosos, religiosas e fiéis - o Papa confia de maneira especial o
compromisso de viver o autêntico espírito de reconciliação entre irmãos,
colocando gestos concretas que ajudem a superar as incompreensões do passado,
mesmo do passado recente. Dessa forma os fiéis, os católicos na China,
poderão testemunhar a própria fé, viver um genuíno amor pela pátria, e também
se abrir para o diálogo entre todos os povos e para a promoção da paz".
O acordo é
curiosamente assimétrico. A assinatura do lado chinês é do Ministério
das Relações Exteriores. A assinatura do Vaticano é a da Secretaria
de Estado. Um referente político-estatal e um referência religioso-eclesiástico.
Dois referentes que, inclusive, até hoje não tinham se reconhecido
reciprocamente de maneira oficial e solene com todas as consequentes
codificações jurídicas. Essa "raridade" já é um grande sucesso das
partes que, de fato, confiam, olham uma para a outra e decidem empreender,
juntas, um percurso cheio de obstáculos, mas cheio de possibilidades e
esperanças. É, portanto, a “raridade” do Acordo que o torna, embora
“provisório”, um movimento poderoso que rompe o que Bento XVI, em
sua Carta aos católicos chineses,
lamentava: "a solução dos problemas existentes não pode ser perseguida
através de um permanente conflito com as legítimas autoridades civis; ao mesmo
tempo, no entanto, não é aceitável uma rendição às mesmas quando interferem
indevidamente em matérias que dizem respeito à fé e à disciplina da Igreja”.
O caminho
parece agora ter sido encontrado e o acordo o torna oficial, igualmente
exigente para ambas as partes. As autoridades civis chinesas e
da Igreja Católica na China, e a Sé Apostólica, estão
agora diante das condições mínimas necessárias para construir juntos o futuro
das suas relações em benefício dos cristãos chineses e do bem comum e da paz de
toda a nação. O Acordo abre um horizonte de esperanças para dar vida e corpo
real. Esse desafio, para algumas mentalidades pragmáticas e utilitaristas, é
perigoso e, portanto, criticável. É um direito delas, mas, nestes casos, quem
decide é a história, o tempo.